Quarta-feira, 24 de Agosto de 2011
Quando se está a aprender uma língua nova ( ou se faz conversa de extrema chacha ) já estão estabelecidas algumas perguntas. " Onde é que moras ", " Qual é o teu prato preferido ", " O que é que fazes no tempo-livre ". As respostas, tal como as perguntas, não devem envolver grande detalhe e devem ter a menor quantidade de vocabulário possível. " Moro em Lisboa ", " O meu prato favorito é pizza ( é sempre uma boa resposta porque é igual na maioria das línguas )", " Gosto de jogar futebol com os meus amigos ". Mas, olhando para trás, houve uma pergunta que me causou grande angústia mental. " Campo ou cidade? ". Geralmente era uma pergunta de teste, após a professora já ter ensinado a área vocabular de cada espaço. E já durante as aulas ( a disciplina era francês para os interessados ), eu punha-me a pensar neste dilema, e cheguei a uma terrível conclusão: eu não gosto de nada. No campo não gosto do relaxamento, da paz de espírito, dos animais, do silêncio exagerado, do ar fresco. Na cidade, não gosto do stress, da inquietação mental, das pessoas que mais parecem animais, do barulho insuportável, do ar que é mais monóxido de carbono que oxigénio. Em ambos os casos, não gosto de passear, de meter conversa com pessoas que não conheço, de estar sempre a pensar na galinha do vizinho. Pedia esclarecimento aos defensores do campo. "Ah e tal, é pacífico". Metes a gravar um documentário sobre golfinhos na Discovery Channel, uns auscultadores que isolam bem o som e aí tens a tua paz. Os defensores da cidade. " Ah e tal há mais emoção". A sério? Foge de um cão furioso enquanto tentas montar um cavalo bravo que entretanto passa por gatos bebés o que activa o lado protector da mãe e simultaneamente estás a ser perseguido pela tua avó com uma vassoura para não maçares os animais, que aí tens a tua emoção. Estava a ser atormentado e partilhei todas estes meus pensamentos. Inconvenientemente, era uma pergunta de dez linhas. Calculo que não será imperativo referir a nota do dito teste. Acho que podem tentar adivinhar.
publicado por Sebastião Marques Lopes às 00:40
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